Grupo atual do Provimp (2013) |
Ianna e parte dos seus colegas de turma parecem ter vivido um divisor de águas, em suas vidas e carreiras, desde que resolveram fazer o estágio na Santa Casa. Na Clínica de Infectados do hospital, eles se depararam com uma realidade talvez crua demais para quem, felizmente, ainda tinha a capacidade de se emocionar com o sofrimento dos pacientes que se encontravam em tratamento.
“As necessidades humanas dos pacientes carentes e que apresentavam quadros clínicos graves não eram correspondidas pelos médicos”, relembra Ianna, que a partir de então desenvolveu um interesse especial pelo que para muitos é um desastre, a relação médico-paciente. Das primeiras observações até a concretização do projeto não demorou muito. Após um período inicial de estudos, entre janeiro e março de 98, já a partir de abril, os estudantes deram início ao que veio a ser o Provimp.
No decorrer do ano de 1999, realizaram quatro cursos de vivência na relação médico paciente, para acadêmicos do primeiro e segundo semestres. Apelidados de Projeto dos Curativos ou da Santa Casa, os estudantes sofreram e ainda enfrentam a resistência de alguns profissionais, médicos e professores, que ignoram a base social e humanitária que reveste o projeto. O apelido deve-se ao fato de que para manter uma relação mais íntima com o paciente, os estudantes faziam curativos nos mesmos.
“Aquele foi o meio que encontramos para nos aproximarmos dos pacientes, para investigar a relação médico-paciente”, esclarece Ianna Lacerda, que a partir dos ensinamentos que vem tendo com os trabalhos realizados pelo grupo, afirma: “Se o médico escuta, o paciente já melhora, pois muitas doenças têm mais um fundo psicossomático do que orgânico”. Ao falar sobre as falhas médicas na relação com o paciente, ela destaca que a não disponibilidade de tempo para ouvir o paciente é uma das mais presentes.
Os participantes do trabalho procuram ser discretos em suas críticas, pelo fato de correrem o risco de serem mal interpretados. Embora considere que o sistema é o maior responsável pela postura assumida pelos médicos, já que é assim que os ensina a lidar com seus pacientes, Ianna não desconsidera que muitos profissionais “não descem do seu pedestal e não têm empatia pelo paciente”, fazendo da medicina uma forma de ganhar status social.
Fonte: Diário do Nordeste-ESPECIAL PARA O CADERNO VIVA ,Milene Madeira (Fortaleza , Ceará Quinta-Feira, 16 de setembro de 1999)
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