1º Colóquio sobre HUMANIDADES MÉDICAS/FAMED-UFC/UNIFOR

Sábado, 26 de outubro/2013, das 8h30 às 15h30
Local: Auditório da SOCEP (Sociedade Cearense de Pediatria. Rua Maria Tomásia, 701. Aldeota. Fone: 3261-5849)
O I Colóquio sobre Humanidades Médicas é um evento organizado pelo Grupo HumanAmigos de Humanidades Médicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará em parceria com a Universidade de Fortaleza (UNIFOR).
Participam também da iniciativa: o Núcleo de Ensino, Assistência e Pesquisa da Infância do Departamento de Saúde Materno-Infantil-FAMED/UFC; o Projeto de Vivência da Relação Médico-Paciente (PROVIMP); o Núcleo de Desenvolvimento da Educação Médica (NUDEM); Instituto da Primeira Infância (IPREDE) e o Núcleo de Tecnologias e Educação a Distância em Saúde (NUTEDS).
Localize-se!

Drops

Visitas de morbidade e mortalidade
por Rafael Campo
associate professor of medicine at Harvard
(Tradução: Henrique Sá)

Perdoe-me, corpo diante de mim, por isto.
Perdoe-me por minhas mãos incompetentes, sem instrução
na forma de tocar: Eu queria entender
o que a febre era, não o que era o amor
Perdoe-me por meu olhar, mas quando eu olho para você,
eu me vejo nu
Perdoe-me, corpo, pelo que parece ser uma análise quando suspiro
antes de cortá-lo com meu bisturi,
porque o cancro tem que ser removido.
Perdoe-me por não lhe dizer, mas eu não sou nenhum poeta
Por favor, perdoe-me
Perdoe minhas luvas, minha saudação insensível, minha inquietação
você não deve perceber que eu conheci a morte de novo
Perdoe-me se eu disser que ela me olhou impaciente
Por favor, perdoe-me o meu desespero
que parece mais recompensa
perdoe minha ambição, perdoe-me por não ter mais para lhe dar
do que esta pílula amarga
perdão
para este pedido de desculpas, tarde demais, para aqueles como eu
cujos crimes podem parecer inócuos
mesmo quando a crueldade parece óbvia
Perdoe-nos por esses pecados. Perdoe-me, por favor,
o meu coração confuso que soa muito como o seu
Perdoe-me pela noite,
quando eu dormi também, ao seu lado, sob a mesma lua
Perdoe-me por meus sonhos, por meus joelhos ásperos,
por desistir cedo demais
Perdoe-me, por favor
por perdê-lo, incapaz de perdoar

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"Todos os homens necessitam que suas histórias sejam ouvidas. Ele era um homem, mas se ele morreu sem contar a sua história, ele seria algo menos do que isso, uma barata albina, um piolho. O calabouço não compreende o homem, nem sua história. A masmorra era estática, eterna, escura e uma história necessita de movimento e luz. Ele sentiu sua história escapando, tornando-se inconsequente, deixando de ser. Ele não tem história. Não havia nenhuma história. Ele não era um homem. Não havia nenhum homem aqui. Havia apenas o calabouço, e um escuro escorregadio".

- Salman Rushdie, A Feiticeira de Florença

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A Verdade Dividida

A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
Voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
Seu capricho, sua ilusão, sua miopia.


Carlos Drummond de Andrade
Livro: O corpo

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"A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço."

Notas sobre a experiência e o saber de experiência
Jorge Larrosa Bondía
Universidade de Barcelona, Espanha
Revista Brasileira de Educação. Jan/Fev/Mar/Abr 2002 Nº 19; p.20-28.


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O que vive
não entorpece.
O que vive fere.
O homem,
porque vive,
choca com o que vive.
Viver
é ir entre o que vive.

[João Cabral  de Melo Neto]

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