1º Colóquio sobre HUMANIDADES MÉDICAS/FAMED-UFC/UNIFOR

Sábado, 26 de outubro/2013, das 8h30 às 15h30
Local: Auditório da SOCEP (Sociedade Cearense de Pediatria. Rua Maria Tomásia, 701. Aldeota. Fone: 3261-5849)
O I Colóquio sobre Humanidades Médicas é um evento organizado pelo Grupo HumanAmigos de Humanidades Médicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará em parceria com a Universidade de Fortaleza (UNIFOR).
Participam também da iniciativa: o Núcleo de Ensino, Assistência e Pesquisa da Infância do Departamento de Saúde Materno-Infantil-FAMED/UFC; o Projeto de Vivência da Relação Médico-Paciente (PROVIMP); o Núcleo de Desenvolvimento da Educação Médica (NUDEM); Instituto da Primeira Infância (IPREDE) e o Núcleo de Tecnologias e Educação a Distância em Saúde (NUTEDS).
Localize-se!

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Congresso Internacional de Humanidades e Humanização em Saúde

O Congresso Internacional de Humanidades e Humanização em Saúde é uma iniciativa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e do Hospital das Clínicas da FMUSP junto às comemorações dos setenta anos do HC.


Objetivo
Nesse evento de celebração, queremos promover reflexões e conversas sobre a humanização nos serviços de saúde e o papel das humanidades na formação profissional, temas que na contemporaneidade estão se tornando cada vez mais importantes na área de saúde.

Prorrogação de Prazo de Inscrição
Atenção! O primeiro prazo de inscrições com desconto foi prorrogado até dia 24/novembro.



Público-alvo: profissionais e estudantes da área de saúde; profissionais envolvidos com a formação de alunos na área de saúde; gestores de serviços de saúde, pessoas interessadas na temática do evento.

Mais informações: http://www.congressohumaniza.com.br/

domingo, 10 de novembro de 2013

HUMANIDADES MÉDICAS: para quê?!

HUMANIDADES MÉDICAS: para quê?!
por Álvaro J Madeiro Leite

[...]
A medicina é uma profissão ambivalente. Triunfa e fracassa. Encanta e desencanta. Tem sido uma profissão angustiada pela premência dos nossos tempos; tempos de subjetividades sem referenciais, tempos sociais sem decência e civilidade, tempos de decepção. Tempos de questionamentos da eficácia dos processos pedagógicos, tempos de substituição da relação médico-paciente para uma relação de laços e vínculos frágeis instituição-paciente.

Como fazer frente aos desgastes por qual passa a medicina e seus médicos, compreendendo os nexos existentes entre os aspectos essenciais da sociedade contemporânea e a formação integral dos médicos?

A medicina, talvez seja a profissão que requer mais insistentemente uma dimensão atemporal, a-histórica do homem: quem sente ou vê o chão se esvair por franca ameaça de uma doença sempre desejará encontrar a proximidade do olhar, da escuta, dos bons gestos de um médico. Os desejáveis gestos!!! Um médico de sempre. “Estar nas mãos dos médicos”, muitas vezes representa a esperança do sopro de vida.

Mas hoje muito se fala da impossibilidade temporal e histórica desses gestos! Da existência desse médico.

A proposta desse Colóquio é ajudar a encontrar os cacos que conformem, com o desejo e trabalho de muitos, o mosaico para uma medicina atenta à sua complexa vocação humanista[...]



A cura pela palavra: um voo para além do silêncio e solidão


Ermelinda Ferreira

Gostaria de começar a minha palestra com o poema de Ferreira Gullar, Traduzir-se, que fala da complexidade do ser humano e da sua necessidade de comunicação com o outro: 




Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo./Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão./Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira./Uma parte de mim almoça e janta: outra parte se espanta./Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente./Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem./Traduzir-se uma parte na outra parte – que é uma questão de vida ou morte – será arte?

Ferreira Gullar

A árvore vermelha, Shaun Tan

Numa época em que a ciência torna-se cada vez mais mecanizada e a relação médico-paciente cada vez mais desumanizada, alguns profissionais vêm investindo na defesa da anamnese – a narrativa médica que traduz as queixas de um paciente – como um expediente dos mais econômicos e eficientes para a prática clínica.
Em seu livro Todo paciente tem uma história para contar, Lisa Sanders considera que a história clínica muitas vezes é o melhor lugar para se encontrar a pista sobre determinado caso. Diz ela: “é a nossa mais antiga ferramenta diagnóstica e também uma das mais confiáveis. De fato, cerca de 70% a 90% dos diagnósticos são feitos com base apenas na história do paciente”. Esta eficácia esbarra, contudo, no atual modelo do interrogatório da anamnese que, ao adotar pressupostos generalistas sobre os sintomas de determinadas doenças, direciona-se mais à confirmação ou não das expectativas prévias do médico do que a um questionamento verdadeiramente investigativo.
A falta de treinamento, o reduzido tempo de consulta, o desconforto com as emoções das pessoas são algumas das causas apontadas por Sanders para a tendência dos profissionais de buscar “apenas os fatos” durante a entrevista, interrompendo-a frequentemente. Segundo ela, em gravações de atendimentos médicos constatou-se que a descrição inicial dos sintomas pelo paciente foi interrompida em mais de 75% das consultas. O estudo indicava que os médicos escutavam os pacientes, em média, durante 16 segundos antes de interromper, e alguns interrompiam a fala do paciente em apenas 3 segundos. Uma vez suspendida a história, menos de 2% dos pacientes a retomavam, e nenhum deles chegava a completá-la.
Arthur W. Frank, em seu livro O contador de histórias ferido – corpo, doença e ética, além de constatar o descompasso entre os avanços científicos e tecnológicos da contemporaneidade e os discursos que sustentam o pensamento pós-moderno e pós-colonialista na defesa da necessidade de expressão da pessoa humana – denunciando situações de sua sujeição aos discursos de poder oficiais e institucionais –, identifica na prática de contar histórias de sofrimento uma “ação moral”, considerando extremamente relevantes os testemunhos de sujeitos individuais, não como matéria para a construção de um “caso clínico” – objeto da investigação profissional –, mas como relatos reveladores do papel que a doença efetivamente exerceu em suas vidas.  
A “medicina narrativa” emergiu, segundo Rita Charon, em resposta a um sistema de saúde que muitas vezes suplanta as necessidades do paciente através de conceitos e interesses corporativos e burocráticos, gerando no sujeito já fragilizado um sentimento de desamparo, solidão e abandono, incompatível com os resultados práticos que os recursos científicos atualmente disponíveis já são capazes de proporcionar em termos de cura ou de alívio para os males do corpo. Em seu livro, ela descreve a “Medicina Narrativa” como uma atividade destinada à formação de profissionais mais competentes para reconhecer, interpretar e reagir com empatia às narrativas dos doentes, utilizando para isso recursos que vai buscar à teoria da literatura – como a compreensão da complexidade temporal dos eventos clínicos e o estabelecimento de conexões textuais através da metáfora e da linguagem figurada –, acreditando que o incentivo à construção de uma genuína relação médico-paciente pode conduzir a uma prática clínica, além de eficiente, mais ética e humanizada.
A literatura sempre foi generosa na elaboração de retratos de médicos e doentes, bem como de relatos autobiográficos de sofrimentos físicos, mentais e espirituais. Há quem diga, inclusive, que só escreve aquele que sofre, constituindo os textos uma espécie de espelho da alma, cuja eficiência em “dizer” já contribui para o conforto e o alívio de seu autor.
Uma das mais belas histórias que ilustram a pertinência da defesa da “medicina narrativa” pode ser encontrada na obra de Jean-Dominique Bauby, de 1997, vertida para o cinema dez anos depois pelo cineasta e artista plástico Julian Schabel: O Escafandro e a Borboleta – verdadeiro ato de tradução do espírito na palavra, que redimensiona a arte, como no poema de Ferreira Gullar, de uma convenção ou prática diletante para o seu papel salvacionista: uma “questão de vida ou morte”. O filme é interessante porque foi todo narrado do ponto de vista do paciente, a quem raramente vemos. Com este recurso, o diretor conseguiu estabelecer uma inevitável empatia do público com o personagem, pondo o expectador no lugar da vítima, ouvindo os seus pensamentos que ninguém mais ouve, e vendo apenas o que ele é capaz de enxergar através de um único olho.
Nascido em 1952, Jean-Dominique Bauby era um jovem feliz e realizado, com dois filhos, redator-chefe da revista Elle, quando aos 43 anos sofreu um acidente vascular cerebral que o aprisionou nos limites de um corpo com todas as funções motoras deterioradas. Inerte e isolado neste “escafandro”, sem esperança de recuperação, ele descobriu – com a decisiva ajuda de sua dedicada fisioterapeuta – um caminho para fora de si mesmo. Juntos, eles elaboraram lentamente um código gestual, baseado nas piscadelas de seu olho esquerdo – o único vínculo que podia estabelecer com o mundo –, e conseguiram escrever um livro inesquecível, comovente e devastador na intensidade de sua verdade humana.

]

Esta obra nos levanta questões importantes sobre a natureza da saúde e da doença, e sobre a própria natureza humana, que, na visão do poeta Ferreira Gullar, é muito mais do que nos informam os dados do nosso corpo físico, atingindo dimensões que só a arte, talvez, consegue captar. Mesmo quando a ciência ainda não pode intervir, a arte é capaz de oferecer meios que podemos entender como “terapêuticos” e eficazes, se pensarmos que a “cura” não significa apenas, como mostra Georges Canguilhem em sua obra O normal e o patológico, o retorno a um qualquer hipotético estado de higidez, tão variável e impreciso quanto são arbitrários e programáticos os critérios da “normalidade” em Medicina –, mas à adaptação produtiva do ser a uma nova situação que o acomete, sem demérito de sua identidade, permitindo a sua mais ampla expressão possível no contexto social e a satisfação de suas demandas intelectuais e afetivas específicas nos limites desta nova realidade.
Uma realidade que pode, algumas vezes, demandar do profissional de saúde um entendimento mais aprofundado sobre a quem cabe o direito de escolha entre a vida e a morte, se ao médico, se ao paciente; quais as implicações envolvidas nesta decisão e qual a melhor forma de lidar com situações tão difíceis como as que envolvem opções tão extremas. Consideramos aqui a cena do filme que retrata a vulnerabilidade da fisioterapeuta ao lidar com a morte – apesar deste evento fazer parte do seu cotidiano de trabalho. Observamos a dificuldade enfrentada pela cuidadora em admitir esta hipótese proposta pelo paciente, que acaba momentaneamente agredido pela incompreensão e revolta da jovem.

A necessidade de se respeitar ou não, visando ao bem do outro, a escolha de pacientes sem perspectiva de cura ou de alívio do sofrimento, nos faz pensar na demanda por uma formação mais ampla e filosoficamente embasada para o profissional de saúde, a fim de fornecer instrumentos para que possa lidar da melhor maneira possível com decisões tão difíceis, sem incorrer na apropriação dos corpos e das vontades alheias. Isto evitaria o sequestro dos indivíduos e o cerceamento de sua liberdade diante da tragédia pessoal que os acomete, o que às vezes ocorre mediante a justificativa da autoridade que é conferida à ciência em nossa sociedade. Trata-se de um aspecto muito difícil, que envolve variantes diversas e problemáticas, mas que não pode, por isso mesmo, ser relegado na formação em saúde.

Para concluir, gostaríamos de refletir que a “cura”, neste “caso clínico” desenganado pela medicina, atingiu uma dimensão verdadeiramente poética, que não teria sido possível sem a correspondência paciente e solidária dos médicos e fisioterapeutas, e sem a força interior e o desejo de superação do ser aprisionado nos limites de um corpo vitimado pelo acidente vascular cerebral. A experiência, em lugar de ser vivida em completo desespero, foi transformada pelo milagre da palavra na razão mesma da existência deste homem, cujo sonho sempre fora escrever um livro. A doença, neste caso, representou a ponte que forneceu o material para uma narrativa que, de nenhum outro modo, teria atingido a dimensão, a eloquência e a validade que alcançou, em sua qualidade de incomum e rara anamnese.

Uma anamnese que, sem deixar de ser clínica, buscou investigar no ser em sofrimento algo além da materialidade de seu invólucro carnal, a “parte que se sabe de repente” de que fala o poeta Gullar. Desacreditado pela ciência, o homem em seu escafandro, vitimado pela síndrome do encarceramento (locked-in syndrome) seria, numa conduta habitual, considerado inválido e esquecido, um corpo imprestável para a vida. Numa perspectiva clínica mais ampla, com o suporte de uma equipe interdisciplinar treinada e habilitada a ouvir o paciente numa dimensão rara e incomum na prática atual, este homem que se conservava lúcido, atento e perceptivo, e que ainda sobreviveu nestas condições por vários meses, foi resgatado de seu cárcere corpóreo e pôde desfrutar de trocas afetivas com seus parentes e amigos, chegando inclusive a realizar o sonho de sua vida, com a publicação de seu livro. 

Suas últimas palavras atingem o objetivo almejado por todos nós, sejamos saudáveis ou doentes; médicos ou poetas – a alegria de viver, ainda que provisoriamente, ainda que contingentemente, a esperança da redenção:

Com os cotovelos sobre a mesa rolante de fórmica que lhe serve de escrivaninha, Claude relê estes textos que vimos extraindo pacientemente do vazio todas as tardes, há dois meses. Sinto prazer em rever certas páginas. Já outras nos decepcionam. Juntando tudo dá um livro? ... Pelo zíper aberto da bolsinha, percebo uma chave de hotel, um bilhete de metrô e uma nota de cem francos dobrada em quatro, como se fossem objetos trazidos por uma sonda espacial enviada à Terra para estudar os tipos de habitat, de transporte e de troca comercial em vigor entre os terráqueos. Esse espetáculo me deixa desamparado e pensativo. Haverá neste cosmo alguma chave para destrancar meu escafandro? Alguma linha de metrô sem ponto final? Alguma moeda suficientemente forte para resgatar minha liberdade? É preciso procurar em outro lugar. É para lá que vou.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

HUMANIDADES MÉDICAS: para quê?!

HUMANIDADES MÉDICAS: para quê?!
por Álvaro J Madeiro Leite

[...]
A medicina é uma profissão ambivalente. Triunfa e fracassa. Encanta e desencanta. Tem sido uma profissão angustiada pela premência dos nossos tempos; tempos de subjetividades sem referenciais, tempos sociais sem decência e civilidade, tempos de decepção. Tempos de questionamentos da eficácia dos processos pedagógicos, tempos de substituição da relação médico-paciente para uma relação de laços e vínculos frágeis instituição-paciente.

Como fazer frente aos desgastes por qual passa a medicina e seus médicos, compreendendo os nexos existentes entre os aspectos essenciais da sociedade contemporânea e a formação integral dos médicos?

A medicina, talvez seja a profissão que requer mais insistentemente uma dimensão atemporal, a-histórica do homem: quem sente ou vê o chão se esvair por franca ameaça de uma doença sempre desejará encontrar a proximidade do olhar, da escuta, dos bons gestos de um médico. Os desejáveis gestos!!! Um médico de sempre. “Estar nas mãos dos médicos”, muitas vezes representa a esperança do sopro de vida.

Mas hoje muito se fala da impossibilidade temporal e histórica desses gestos! Da existência desse médico.

A proposta desse Colóquio é ajudar a encontrar os cacos que conformem, com o desejo e trabalho de muitos, o mosaico para uma medicina atenta à sua complexa vocação humanista[...]



História e Verbo: aguardando um acontecimento inesperado, artesania plástica do medico Glauco Sobreira

A Flor e a Náusea, Drummond

Para comemorar o Dia D de Drummond antecipadamente no blog:

A FLOR E A NÁUSEA
Carlos Drummond de Andrade

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio,
paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

...
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Poesia: Visitas de morbidade e mortalidade, por Rafael Campo

Gustave Klimt, Morte e Vida, óleo sobre tela, 1910.


















Visitas de morbidade e mortalidade
por Rafael Campo
associate professor of medicine at Harvard
(Tradução: Henrique Sá)

Perdoe-me, corpo diante de mim, por isto.
Perdoe-me por minhas mãos incompetentes, sem instrução
na forma de tocar: Eu queria entender
o que a febre era, não o que era o amor
Perdoe-me por meu olhar, mas quando eu olho para você,
eu me vejo nu
Perdoe-me, corpo, pelo que parece ser uma análise quando suspiro
antes de cortá-lo com meu bisturi,
porque o cancro tem que ser removido.
Perdoe-me por não lhe dizer, mas eu não sou nenhum poeta
Por favor, perdoe-me
Perdoe minhas luvas, minha saudação insensível, minha inquietação
você não deve perceber que eu conheci a morte de novo
Perdoe-me se eu disser que ela me olhou impaciente
Por favor, perdoe-me o meu desespero
que parece mais recompensa
perdoe minha ambição, perdoe-me por não ter mais para lhe dar
do que esta pílula amarga
perdão
para este pedido de desculpas, tarde demais, para aqueles como eu
cujos crimes podem parecer inócuos
mesmo quando a crueldade parece óbvia
Perdoe-nos por esses pecados. Perdoe-me, por favor,
o meu coração confuso que soa muito como o seu
Perdoe-me pela noite,
quando eu dormi também, ao seu lado, sob a mesma lua
Perdoe-me por meus sonhos, por meus joelhos ásperos,
por desistir cedo demais
Perdoe-me, por favor
por perdê-lo, incapaz de perdoar

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Três artigos sobre Medicina, a arte de curar (placebos, nocebos, ars curandis), por Isaac Furtado

Efeito placebo
A relação médico-paciente funciona em paralelo com o fenômeno placebo-nocebo, exercendo influências no psiquismo e nas respostas neurofisiológicas, de maneira positiva ou negativa, favorável ou desfavorável, como um instrumento terapêutico ou iatrogênico. Já o termo nocebose origina do latim nocere, que significa infligir dano. O oposto de inocere (inocente). Então, seria o placebo inocente?
Leia o artigo completo: http://gazetacrateus.com.br/v2010/opiniao/gazeta-saude-34/

Ars Curandi
A jornada foi longa até se chegar a uma medicina baseada em provas, com exames altamente especializados, com estudos genéticos, marcadores tumorais ou cirurgias robóticas. Mas, ainda necessitamos do tratamento básico de saúde, de simples noções de higiene, e todos sabemos que prevenir é melhor do que remediar. Esse remediar, para medicina, custa muito caro.
Agora, vinte e cinco séculos depois, necessitamos nos remeter ao princípio grego do conforto ao paciente diante da doença, não apenas ao tratamento mecanicista do combate à patologia. Esse conforto é conseguido sempre com a propedêutica que segue regras simples de escutar, olhar e tocar o paciente.
Escutar demonstra interesse, onde muitos dados são anotados na anamnese. Diria que escutar representa cinquenta por cento da consulta. Não apenas o auscultar dos pulmões, do coração, mas escutar as queixas, os problemas mais diversos. Quase como uma sessão psicanalítica.
Olhar é o primeiro ato do exame físico, o dito olhar clínico é fundamental para que muitas conexões sejam feitas durante a consulta, o olhar em busca de sinais, de icterícia, de anemia, lesões de pele etc. O olhar direto no olho que demonstra segurança, o compromisso com a cura.
Tocar é o outro ponto importante da consulta. Não apenas na palpação do abdome, das articulações, mas no aperto de mão na hora da saída, o toque para que o paciente não se sinta desamparado.

Leia o artigo completohttp://gazetacrateus.com.br/v2010/opiniao/gazeta-saude-32/

O ato médico
O ato médico evoca o compromisso sagrado da cura, onde o paciente sempre estará em primeiro plano. Temos que lutar pela qualidade deste ato, não é preenchendo os vazios que os problemas serão resolvidos, mas esvaziando tudo que desvirtue deste caminho, todo interesse político ou corporativista.
No Brasil, os médicos seguem leis definidas em 1931. Agora o Projeto de Lei 7.703/06 há mais de 11 anos em tramitação pelo Congresso Nacional, que leva popularmente o nome de Ato Médico, e prevê uma nova regulamentação do exercício da Medicina no país, está causando muita polêmica. No dia 17 de junho de 2013, o projeto de lei foi aprovado pelo Senado Federal com apenas um voto contra, e foi publicada no dia 11/07/13 no Diário Oficial a sanção da presidente Dilma Rousseff. No entanto, dez pontos importantes e polêmicos foram vetados, como a exclusividade dos diagnósticos.

Leia o artigo completohttp://gazetacrateus.com.br/v2010/sem-categoria/gazeta-saude-30/


Isaac Furtado -  Cirurgião Plástico
Formado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará, terminou sua pós-graduação no Serviço de Cirurgia Plástica do Prof. Ivo Pitanguy e PPUC-RJ. Desde 1999 é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Participará de mesa redonda no Colóquio com a fala: “Olhar sensível: contribuições das Artes Plásticas” (obra sensível de Descartes Gadelha). Confira a programação!

Medicina: ciência e arte, por Antonio Ledo

Medicina: ciência e arte

O povo brasileiro
Origina-se, em parte,
De Portugal,

Ao atravessar o oceano,
Em suas naus,
Os portugueses trazem também,
As origens da Medicina brasileira tradicional

Picanço, nobre Pernambucano,
Formado no Reino Lusitano e na França,
Medico da corte Joanina,
Vem com a proposta pronta,
Para as escolas de Medicina,
Da Bahia e do Rio de Janeiro

Nessa época,
A tal Medicina tradicional,
(Vinda d’além-mar com as naus)
Era quase pura ARTE,
Já que a eficácia dos medicamentos,
Dos unguentos circulantes,
Das cirurgias aterrorizantes,
Era nula, ou quase nula

Desde então,
Já se vão,
Mais de 200 anos,
E o quadro daquela época: INVERTE-SE

A ciência avança, a passos estrondosos
A técnica medica, com nível de sofisticação,
Similar ao exigido, para ir à lua
Os medicamentos,
São finalmente,
Eficazes,
(Ou quase, na maioria das vezes)

Há que se considerar, no entanto,
Que muitas doenças,
(Como por exemplo, a Tuberculose),
Tiveram sua carga reduzida,
Expressiva e gradativamente,
Muito antes do advento, das drogas ‘anti’

E os PACIENTES,
Como se enquadram,
Nesse cenário pós-moderno?

Estes, infelizmente,
Acompanham como sempre,
Pacientes

Porém, mais que nunca,
Seguem tolerando o intolerável,
Atendidos rapidamente,
Por vezes de pé,
Como penitentes,
Aceitando o inaceitável

Olhos nos olhos,
Nas consultas,
Nem se cogita,
Faz mal a saúde,
Ou a conjuntiva,
‘O bom é remédio,
Que afina o sangue’

A Medicina do presente,
Confunde-se com a ciência,
Salve a Medicina!

O progresso, e a ilusão-de-ótica,
Aprofunda-se com a Ciência!
Pela fibra e por e-mail,
Viva o progresso

Nesse cenário,
As vozes e as almas,
Dos PACIENTES,
Cada vez mais longevos,
Seguem impacientes

Como comunicar-se,
Em um contexto,
Onde a ARTE da Medicina,
Vê-se ofuscada,
Diante de tantas luzes lancinantes,
Pretensos açúcares,
Edulcorantes?

Ou, como querem os otimistas
Nesse novo contexto,
A ARTE apenas adormece,
(Para uns profundamente)
A espera d’algum príncipe,
Que venha tocar-lhe os lábios

Nesse sentido,
É preciso,
E sem nenhuma duvida,
Corrigir o rumo,

É urgente levar a nau,
De volta,
Aos tempos idos,

É imperativo resgatar os sentidos,
De 1808,
Quando a Medicina, ARTE pura,
Resistia sem a ciência,
De 2008

Urge fazer com que a cura,
Venha depois do alívio,
Com que Aquele que trata,
Bata na porta,
Após Aquele que cuida,
Além da obrigação do ofício

Humanidades Médicas,
Faz um primeiro colóquio,
Refaz a agenda,
Combinando períodos,
Traz o paciente,
À centralidade
Revigora o tempo da Medicina: ciência e arte

Efusivos PARABÉNS a todos,
Que participam dessa luta,
E constroem juntos,
O imperioso coletivo do ‘humano contemporâneo’

A. Ledo

23-X-2013


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Drops

"Todos os homens necessitam que suas histórias sejam ouvidas. Ele era um homem, mas se ele morreu sem contar a sua história, ele seria algo menos do que isso, uma barata albina, um piolho. O calabouço não compreende o homem, nem sua história. A masmorra era estática, eterna, escura e uma história necessita de movimento e luz. Ele sentiu sua história escapando, tornando-se inconsequente, deixando de ser. Ele não tem história. Não havia nenhuma história. Ele não era um homem. Não havia nenhum homem aqui. Havia apenas o calabouço, e um escuro escorregadio".

- Salman Rushdie, A Feiticeira de Florença

Confira os Drops!

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Reflexão

Do cansaço das noites de plantão à felicidade dos presságios do progresso, da alegria intensa das terapêuticas bem-sucedidas à angústia do fracasso, da miséria à glória dos corpos e das almas, do trocarte ao categute, fui apaixonado por medicina. Venerei meus mestres. Nunca lamentei minha vocação, mesmo nos momentos de decepção.

Que o leitor não imagine, pois, encontrar aqui ressentimentos ou rancor. Somente a percepção de um perigo e a impressão de um mal-estar profissional dirigiram meu pensamento. Fiquei preocupado com o silêncio dos médicos: não quis compartilhar o que creio ser o erro comum de uma incapacidade de se questionar. Eis, pois, do fundo de meu coração, um apelo para que a medicina permaneça a mais bela profissão do mundo.

(Philippe Meyer. Prólogo. In: A irresponsabilidade médica. Editora UNESP. 2000.)

Na seção Drops...

Numa rápida alusão ao Dia D (que já está chegando) trazemos aos nossos Drops:

A Verdade Dividida, de Carlos Drummond de Andrade

A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.

[...] ---> leia mais

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Uma visão acerca da linguagem e seu papel na relação médico-paciente, por Henrique Sá

Uma visão acerca da linguagem e seu papel na relação médico-paciente 
Henrique Sá, Curso de Medicina, Universidade de Fortaleza

Nem todos os pacientes podem ser salvos, mas suas condições podem ser aliviadas pela forma como o médico responde a eles [os pacientes]… Ao aprender a falar para os seus pacientes, o médico fala a si próprio, significando sua prática, devolvendo a ela a paixão dos primeiros momentos. 
Broyard, 1992. 

Quando sofremos uma injúria ou adoecemos, tentamos falar sobre como nos sentimos, o quanto dói, como dói, e nos preocupamos sobre o significado da doença para nossas vidas. De algum modo, nós empreendemos uma conversação interna sobre nosso adoecer, mas tal conversação não é um monólogo; estabelece-se um diálogo com outros imaginários que se baseia em um repertório de experiências pregressas ou de intuições e percepções sobre o adoecer, que estabelecem provisoriamente recursos para a compreensão e o lido com o adoecer. Acredito que isto ocorre mesmo com crianças muito pequenas, naturalmente com recheios muito mais fantasiosos. Ao procurar um profissional para ampliar a percepção– e procurar resolver –a doença, os pacientes de alguma forma buscar exteriorizar esta conversação interna. Mas o que acontece neste diálogo?

Os médicos normalmente nos pedem para descrever como nos sentimos. "Este desconforto parece mais como uma dor em aperto ou em pontada?”. “Esta tontura é como se o mundo estivesse rodando?”. O que me parece interessante na articulação com o profissional é que o diálogo tende a converter um “sentimento” (o que eu estou sentindo) para uma “denominação” (como eu evocaria este sentimento). A nomeação de um sentimento é expressiva ao invés de designativa. Para expressar um sentimento, é preciso muitas vezes recorrer a evocação. Uma vez que tenhamos respondido à pergunta inicial (dor aguda ou dor surda?), mais perguntas sobrevirão para que o médico tente afinar o diferencial. Nosso modelo de anamnese clínica tende a buscar uma expressão nominativa dos sentimentos. Em resposta a "conte-me mais sobre sua dor", uma descrição mais detalhada (até onde isso é possível) tende a ajudar menos do que exemplos, analogias ou metáforas; "é algo como ...", "isso me lembra de .... ". A conversação médico-paciente, para lembrar Ozick, está encharcada de metáforas.



Observem um trecho de “O Carteiro e o Poeta” (Il postino, Itália, 1994), baseado no livro Ardiente Paciencia de Antonio Skármeta. O filme apresenta a poesia como protagonista da história de uma amizade, em princípio, improvável, entre o grande poeta chileno Pablo Neruda e o carteiro Mario. Por razões políticas, Neruda (interpretado por Phillip Noiret) se exila em uma ilha no sul da Itália. Mário (Massimo Troisi), filho de um pescador, mas que não quer seguir a profissão do pai, é contratado como carteiro, encarregado de cuidar exclusivamente da correspondência do poeta. Aos poucos, Mário consegue se aproximar de Neruda, e as barreiras entre os dois caem e dão lugar a uma troca de sentimentos e descobertas. Quando se descobre apaixonado pela bela Beatrice Russo, Mario pede ajuda a Neruda para conquistar a amada com poesia. É quando descobre o significado de “metáfora” e aprende a expressar seus sentimentos por Beatrice. Ele aprende que, através da observação das realidades exteriores, pode expressar o que está em seu interior. A primeira coisa que diz a Beatrice é “seu sorriso é como as asas de uma borboleta”. Mário demonstra profunda sensibilidade e, em determinado momento, lança uma questão que faz o próprio Neruda pedir um tempo para pensar: “Todas as coisas no mundo têm outra coisa que é sua metáfora?”.

Expressar-se cria rapport. Depois de ter falado, eu não estou mais sozinho, eu estou participando de uma conversa com outras pessoas visando dar sentido ao que me aflige. A minha experiência não é mais só minha, mas agora é a nossa experiência. A linguagem cria um ponto de vista compartilhado a partir do qual podemos ver as coisas juntos.

Doutor, estou sentindo uma rima terrível” – é assim que Paulo Leminski, poeta curitibano abre seu conto “Sintomas”, no livro de coletâneas Gozo Fabuloso (2004, DBA). Como já era nítido em sua obra mais conhecida, a poesia, aqui Leminski abusa dos jogos de palavra – um abusar no sentido positivo, de bastante uso de um recurso que ele domina muito bem. Parece, na realidade, aquele sujeito que faz malabarismo como se fosse a coisa mais simples do mundo, e que quando você tenta fazer igual acaba se dando mal. Dá para perceber isso como quando o médico pede para ver a língua do paciente, que acaba respondendo: “O senhor não leve a mal, mas é uma língua apenas portuguesa. Pouca gente no mundo já viu uma língua como essa.“. Ele cria uma situação de humor sem ser histérico, é aquele jeito gostoso de achar graça. O jogo de perguntas e respostas é rápido, afiado e muito, muito bom.

- É, é mais grave do que eu pensava.
- Vou morrer?
- Um dia vai. Mas antes vais ser pior. O senhor pode ficar famoso.
- Pra sempre?
- Não, quando é para sempre a gente chama glória. A fama passa.

As relações entre médicos e pacientes não são inventos de novo, mas (como acontece com as relações em geral) existem dentro de um contexto de compreensão compartilhada sobre que "fundamentos " tais relações se dão. E esses entendimentos compartilhados são revivificados e reafirmados (ou revistos) no diálogo constituído pelos encontros terapêuticos. Compreender a dinâmica da expressão da linguagem do paciente é, finalmente, compreender o sentido de sua própria expressão como terapeuta – e a próprio sentido da profissão. Diz Taylor:

A manutenção destes diferentes fundamentos requer algum grau de entendimento comum por parte dos participantes potenciais (…); o entendimento comum é provocado e mantido por meio da linguagem. (…) Isso não significa que não exista um entendimento comum, tácito, entre as pessoas. Mas não tal entendimento não é necessariamente intersticial. Ele existe dentro de um framework sobre o que é expresso. Sem linguagem, ao final das contas, não poderíamos ter o que descrevemos como entendimento comum (Taylor , 1985 , 272).

Nietzsche chamou isto de Sittlichkeit der Sitte - o caráter personalizado da moralidade. Vivemos dentro de padrões recebidos de nossas experiências com o mundo – mediadas pela linguagem, e que estabelecem parâmetros pelos quais interpretamos – e expressamos – nossos sentimentos. Em relação às nossas doenças, tais parâmetros não são, no entanto , ao contrário do ponto de vista de Nietzsche, necessariamente sufocantes e restritivos. Como pacientes, a percepção – e a expressão – da enfermidade normalmente permanece válida (embora sujeita a revisão) até o momento em que é dialogada com a experiência profissional, e com sua interpretação. Até então, porque passaram pelos testes do tempo e da experiência, nossas percepções do adoecer são fruto de um dialogo interno que configura nossa descrição – via linguagem – da enfermidade. Entretanto, os médicos são distinguidos acima de tudo pela sua capacidade de enxergar além da história do paciente para as complexas redes de conhecimentos médicos – as redes de possibilidades diagnósticas - pelos quais doenças são consideradas reconhecíveis. Hipervalorizar esta capacidade, tal como a formação médica tende a fazer, tem duas consequências perniciosas: a desvalorização da experiência do doente (e do médico) e a transformação do corpo do doente (e, muitas vezes, do próprio doente) em  um objeto aos olhos do médico. A “ciência” médica prospera em definir sua relação sujeito/médico-objeto/paciente e cultiva a consciência monológica, que tem como objetivo conhecer os objetos de seu estudo; a Medicina tende a considerar suspeitas todas as coisas subjetivas. Ao contrário, a “prática” médica é experiencial, relacional, e hermenêutica por natureza.

Explorar os limites da experiência da relação médico-paciente é, ao final das contas, redescobrir também significados intrínsecos da linguagem entre estes dois participantes de um processo terapêutico, e resvalam significantes para os dois lados: o paciente, que encontra no médico o ser dialógico que interpreta sua percepção da enfermidade, em busca do alívio tão requerido para sua dor; e o médico, que como diz Broyard, reencontra-se com o significado de sua própria profissão.

Ozick, C. 1991. Metaphor and memory. New York: Vintage Books.
Taylor, C. 1985. Human agency and language. Cambridge, MA: Harvard University Press.


Prof. Henrique Sá - Vice-Reitor de Graduação da UNIFOR
Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (1992), Residência Médica em Pediatria (Hospital Walter Cantídio, UFC, 1995) e mestrado em Health Professions Education (MHPE) - University Of Illinois At Chicago (2001). Atualmente é Professor Assistente da Universidade de Fortaleza onde atua como Vice-Reitor de Ensino de Graduação. Foi Coordenador de Planejamento e Avaliação do Curso de Medicina e membro da Assessoria Pedagógica do Centro de Ciências da Saúde entre 2004-2008. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Pediatria e Desenvolvimento Infantil, e na área de Educação para as Profissões da Saúde/Educação Médica, atuando principalmente nos seguintes temas: aprendizagem baseada em problemas, problem-based learning, educaçâo medica, avaliação de estudantes e programas educacionais, desenho de currículos e, no campo da pediatria, Clínica Pediátrica e Desenvolvimento Infantil.

1º Colóquio sobre HUMANIDADES MÉDICAS/FAMED-UFC/UNIFOR

Sábado, 26 de outubro/2013, das 8h30 às 15h30
Local: Auditório da SOCEP (Sociedade Cearense de Pediatria. Rua Maria Tomásia, 701. Aldeota. Fone: 3261-5849)

O I Colóquio sobre Humanidades Médicas é um evento organizado pelo Grupo HumanAmigos de Humanidades Médicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará em parceria com a Universidade de Fortaleza (UNIFOR).

Participam também da iniciativa: o Núcleo de Ensino, Assistência e Pesquisa da Infância do Departamento de Saúde Materno-Infantil-FAMED/UFC; o Projeto de Vivência da Relação Médico-Paciente (PROVIMP); o Núcleo  de Desenvolvimento  da Educação Médica (NUDEM); Instituto da Primeira Infância (IPREDE) e o Núcleo de Tecnologias e Educação a Distância em Saúde (NUTEDS).

Localize-se!

Provimp: curar, aliviar e consolar sempre

       “O médico tem que curar algumas vezes, aliviar muitas e consolar sempre”. É com base nesse ensinamento de Northnagel, que estudantes do curso de Medicina, da Universidade Federal do Ceará (UFC), desenvolvem o Projeto de Vivência na Integração Médico Paciente, o Provimp. A idéia surgiu quando o grupo cursava o primeiro semestre e realizou um estágio extra-curricular na Santa Casade Misericórdia.“Foi quando percebemos que a relação médico paciente não era eficaz”, afirma Ianna Lacerda  ex-participante do projeto.


Grupo atual do Provimp (2013)
      Das primeiras inquietações, em outubro de 1997, surgidas no contexto de um hospital voltado para o atendimento de pessoas carentes, o Provimp tomou forma até ser atualmente um projeto premiado. Em novembro do ano 1998, foi escolhido o melhor trabalho da área de Difusão Científica, durante o Encontro de Iniciação Científica da UFC - o que, no entanto, não fez aumentar o número de bolsas de pesquisa, que é de apenas uma. Já no ano de 1999, por ocasião do Encontro Científico dos Estudantes de Medicina, o projeto foi selecionado como o melhor Trabalho de Ensino Médico.
      Ianna e parte dos seus colegas de turma parecem ter vivido um divisor de águas, em suas vidas e carreiras, desde que resolveram fazer o estágio na Santa Casa. Na Clínica de Infectados do hospital, eles se depararam com uma realidade talvez crua demais para quem, felizmente, ainda tinha a capacidade de se emocionar com o sofrimento dos pacientes que se encontravam em tratamento.
     “As necessidades humanas dos pacientes carentes e que apresentavam quadros clínicos graves não eram correspondidas pelos médicos”, relembra Ianna, que a partir de então desenvolveu um interesse especial pelo que para muitos é um desastre, a relação médico-paciente. Das primeiras observações até a concretização do projeto não demorou muito. Após um período inicial de estudos, entre janeiro e março de 98, já a partir de abril, os estudantes deram início ao que veio a ser o Provimp.
     No decorrer do ano de 1999, realizaram quatro cursos de vivência na relação médico paciente, para acadêmicos do primeiro e segundo semestres. Apelidados de Projeto dos Curativos ou da Santa Casa, os estudantes sofreram e ainda enfrentam a resistência de alguns profissionais, médicos e professores, que ignoram a base social e humanitária que reveste o projeto. O apelido deve-se ao fato de que para manter uma relação mais íntima com o paciente, os estudantes faziam curativos nos mesmos.
     “Aquele foi o meio que encontramos para nos aproximarmos dos pacientes, para investigar a relação médico-paciente”, esclarece Ianna Lacerda, que a partir dos ensinamentos que vem tendo com os trabalhos realizados pelo grupo, afirma: “Se o médico escuta, o paciente já melhora, pois muitas doenças têm mais um fundo psicossomático do que orgânico”. Ao falar sobre as falhas médicas na relação com o paciente, ela destaca que a não disponibilidade de tempo para ouvir o paciente é uma das mais presentes.
     Os participantes do trabalho procuram ser discretos em suas críticas, pelo fato de correrem o risco de serem mal interpretados. Embora considere que o sistema é o maior responsável pela postura assumida pelos médicos, já que é assim que os ensina a lidar com seus pacientes, Ianna não desconsidera que muitos profissionais “não descem do seu pedestal e não têm empatia pelo paciente”, fazendo da medicina uma forma de ganhar status social.

Fonte: Diário do Nordeste-ESPECIAL PARA O CADERNO VIVA ,Milene Madeira (Fortaleza , Ceará Quinta-Feira, 16 de setembro de 1999)

Você pode me ouvir, Doutor?


Da mesma forma que o amor tem a força de rejuvenescer e transformar o cotidiano num mágico cenário, a doença, ou a suspeita dela, tem o efeito de tirar o chão, transformando as alegrias em medo e insegurança. Nesse momento, é preciso acreditar na força da vida que parece esvair-se de repente. É quando o médico – com seu mítico poder de cura – passa a ter fundamental papel em nossas vidas. O Doutor de branco passa a ocupar um lugar mitológico, mágico, nunca antes perdido, mesmo ante um mundo altamente tecnológico que mantém todos distantes. Cadeiras afastadas, num mundo cercado pela pressa e ausência de relações pessoais quase não há mais tempo para o convívio humano, menos ainda para o tão importante e mítico convívio entre o médico e o paciente. O acolhimento, o humanismo, o cuidado com o outro que sofre parecem coisas ultrapassadas.

Você pode me ouvir, Doutor? é uma obra sensível, amorosa, que pretende lembrar ao médico, mediante cartas de outros profissionais, que a capacidade de curar começa com a capacidade de ouvir. Rubem Alves diz que a gente ama quem ouve bonito e que todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir.

Esta obra é um convite delicado, amoroso para profissionais da saúde, escrito por outros profissionais que viveram a experiência de que a cura começa na capacidade de ouvir e na disponibilidade interior de ser o intérprete das necessidades de quem está numa cadeira à sua frente. Esta obra propõe que se aproximem as cadeiras.

Os organizadores

João Macedo Coelho Filho e Álvaro Jorge Madeiro Leite
João Macedo  Coelho Filho possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (1982-1988), Residência em Clínica Médica no Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará (1989-1990), Mestrado em Epidemiologia pela Universidade Federal de São Paulo (1994-1996), Visiting Fellowship em Geriatria pela Universidade de Oxford, Inglaterra (1998-1999), Especialista em Geriatria pela Associação Médica Brasileira/Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Doutorado em Farmacologia pela Universidade Federal do Ceará (1998-2000). Atuou como revisor na base editorial do Grupo Cochrane de Demência, vinculado ao Departamento de Gerontologia Clínica da Universidade de Oxford (1988-1989). Atualmente é Professor Associado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC); Coordenador da Disciplina de Geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará; Coordenador do Centro de Atenção ao Idoso do Hospital Universitário Walter Cantídio da UFC; Diretor do Instituto de Geriatria e Gerontologia do Ceará; Chefe do Departamento de Medicina Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará; Preceptor da Residência em Geriatria do Hospital Universitário Walter Cantídio da UFC. Foi editor-chefe (2007-2011) da revista "Geriatria & Gerontologia" da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia-SBGG (2008-2011). Tem atuação na área clinica, na pesquisa e no ensino em nível de graduação e pós-graduação, exercendo a atividade de Docente do Mestrado em Saúde Pública da UFC e do Doutorado em Saúde Coletiva UFC/UECE. Possui interesse especial nos seguintes temas: serviços de saúde para o idoso; disfunção cognitiva e envelhecimento; medicamentos e idosos; epidemiologia do envelhecimento; educação médica.



Álvaro Jorge Madeiro Leite possui Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Alagoas (1982), Mestrado em Epidemiologia - Modalidade Epidemiologia Clínica pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (1996) e Doutorado em Pediatria pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (2000). Atualmente é Professor Titular da Universidade Federal do Ceará. É co-autor dos livros "Você pode me ouvir doutor? Cartas para quem escolheu ser médico" (junto a João Macedo Coelho Filho) e "Habilidades de Comunicação com Pacientes e Famílias" (junto a João Macedo Coelho Filho e Andrea Caprara). Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Pediatria, atuando principalmente nos seguintes temas: mortalidade perinatal e neonatal, mortalidade infantil, doenças respiratórias da infância, desenvolvimento infantil e educação médica. Nos últimos tempos, vem dedicando-se a estudar o campo das Humanidades Médicas, o que significa um interesse amplo pelos conteúdos humanísticos que devem estar presentes nas estratégias de ensino-aprendizagem e nas conexões existentes entre o método clínico centrado no paciente e o ensino das habilidades de comunicação.

“A contribuição das Artes Cinemáticas”, por Jesus Irajacy




A contribuição das Artes Cinemáticas é uma das falas que irão compôr a  primeira mesa redonda do 1º Colóquio sobre Humanidades Médicas FAMED-UFC/UNIFOR, e tratará do filme "Perfume de Mulher".


 Jesus Irajacy Fernandes da Costa - Radiologia - UFC
Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Ceará(1988), mestrado em Medicina (Clínica Médica) pela Universidade Federal do Ceará(2001) e residencia-medicapela Universidade Federal do Ceará(1991). Atualmente é Professor Assistente da Universidade Federal do Ceará.

domingo, 20 de outubro de 2013

Grupo de Humanidades - Medicina da Universidade Estadual do Ceará

Formação do grupo em 2008

Nos últimos anos, vem se desenvolvendo uma grande área de reflexão e pensamento, denominada "humanidades médicas", que incorpora a realidade social e a experiência individual à interface entre médico e paciente. O grupo Humanidades, Saberes e Práticas em Saúde nasce em 2004, como núcleo de desenvolvimento de pesquisas, composto por estudantes de Medicina, com o objetivo de explorar como a prática médica lida com as experiências de pacientes e de médicos e o processo saúde-doença. As linhas de ação envolvem pesquisa com médicos oncologistas e sua visão da relação médico-paciente na consulta oncológica e ensino no terceiro e quarto semestres do curso de Medicina, utilizando casos clínicos, modelo teórico e role play. Nessa perspectiva, busca-se aproximar a temática da relação médico-paciente do cotidiano dos estudantes de Medicina, contribuindo para desenvolver uma atitude humanizada frente ao ser humano portador de enfermidade.

Leia mais
Educação e Humanidades em saúde: a experiência do grupo de Humanidades do curso
de Medicina da Universidade Estadual do Ceará (Uece)

domingo, 13 de outubro de 2013

1º Colóquio sobre HUMANIDADES MÉDICAS/FAMED-UFC/UNIFOR

Sábado, 26 de outubro/2013, das 8h30 às 15h30
Local: Auditório da SOCEP (Sociedade Cearense de Pediatria. Rua Maria Tomásia, 701. Aldeota. Fone: 3261-5849)

O I Colóquio sobre Humanidades Médicas é um evento organizado pelo Grupo HumanAmigos de Humanidades Médicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará em parceria com a Universidade de Fortaleza (UNIFOR).

Participam também da iniciativa: o Núcleo de Ensino, Assistência e Pesquisa da Infância do Departamento de Saúde Materno-Infantil-FAMED/UFC; o Projeto de Vivência da Relação Médico-Paciente (PROVIMP); o Núcleo  de Desenvolvimento  da Educação Médica (NUDEM); Instituto da Primeira Infância (IPREDE) e o Núcleo de Tecnologias e Educação a Distância em Saúde (NUTEDS).

Localize-se!

HUMANIDADES MÉDICAS: para quê?!

por Álvaro J Madeiro Leite

[...]
A medicina é uma profissão ambivalente. Triunfa e fracassa. Encanta e desencanta. Tem sido uma profissão angustiada pela premência dos nossos tempos; tempos de subjetividades sem referenciais, tempos sociais sem decência e civilidade, tempos de decepção. Tempos de questionamentos da eficácia dos processos pedagógicos, tempos de substituição da relação médico-paciente para uma relação de laços e vínculos frágeis instituição-paciente.

Como fazer frente aos desgastes por qual passa a medicina e seus médicos, compreendendo os nexos existentes entre os aspectos essenciais da sociedade contemporânea e a formação integral dos médicos?

A medicina, talvez seja a profissão que requer mais insistentemente uma dimensão atemporal, a-histórica do homem: quem sente ou vê o chão se esvair por franca ameaça de uma doença sempre desejará encontrar a proximidade do olhar, da escuta, dos bons gestos de um médico. Os desejáveis gestos!!! Um médico de sempre. “Estar nas mãos dos médicos”, muitas vezes representa a esperança do sopro de vida.

Mas hoje muito se fala da impossibilidade temporal e histórica desses gestos! Da existência desse médico.

A proposta desse Colóquio é ajudar a encontrar os cacos que conformem, com o desejo e trabalho de muitos, o mosaico para uma medicina atenta à sua complexa vocação humanista[...]

Leia aqui o texto completo da apresentação.