1º Colóquio sobre HUMANIDADES MÉDICAS/FAMED-UFC/UNIFOR
Sábado, 26 de outubro/2013, das 8h30 às 15h30
Local: Auditório da SOCEP (Sociedade Cearense de Pediatria. Rua Maria Tomásia, 701. Aldeota. Fone: 3261-5849)
O I Colóquio sobre Humanidades Médicas é um evento organizado pelo Grupo HumanAmigos de Humanidades Médicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará em parceria com a Universidade de Fortaleza (UNIFOR).
Participam também da iniciativa: o Núcleo de Ensino, Assistência e Pesquisa da Infância do Departamento de Saúde Materno-Infantil-FAMED/UFC; o Projeto de Vivência da Relação Médico-Paciente (PROVIMP); o Núcleo de Desenvolvimento da Educação Médica (NUDEM); Instituto da Primeira Infância (IPREDE) e o Núcleo de Tecnologias e Educação a Distância em Saúde (NUTEDS).
Localize-se!
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
HUMANIDADES MÉDICAS: para quê?!
por Álvaro J Madeiro Leite
[...]
A medicina é uma profissão ambivalente. Triunfa e fracassa. Encanta e desencanta. Tem sido uma profissão angustiada pela premência dos nossos tempos; tempos de subjetividades sem referenciais, tempos sociais sem decência e civilidade, tempos de decepção. Tempos de questionamentos da eficácia dos processos pedagógicos, tempos de substituição da relação médico-paciente para uma relação de laços e vínculos frágeis instituição-paciente.
Como fazer frente aos desgastes por qual passa a medicina e seus médicos, compreendendo os nexos existentes entre os aspectos essenciais da sociedade contemporânea e a formação integral dos médicos?
A medicina, talvez seja a profissão que requer mais insistentemente uma dimensão atemporal, a-histórica do homem: quem sente ou vê o chão se esvair por franca ameaça de uma doença sempre desejará encontrar a proximidade do olhar, da escuta, dos bons gestos de um médico. Os desejáveis gestos!!! Um médico de sempre. “Estar nas mãos dos médicos”, muitas vezes representa a esperança do sopro de vida.
Mas hoje muito se fala da impossibilidade temporal e histórica desses gestos! Da existência desse médico.
A proposta desse Colóquio é ajudar a encontrar os cacos que conformem, com o desejo e trabalho de muitos, o mosaico para uma medicina atenta à sua complexa vocação humanista[...]
A Flor e a Náusea, Drummond
A FLOR E A NÁUSEA
Carlos Drummond de Andrade
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio,
paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
...
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Poesia: Visitas de morbidade e mortalidade, por Rafael Campo
Gustave Klimt, Morte e Vida, óleo sobre tela, 1910. |
Visitas de morbidade e mortalidade
por Rafael Campo
associate professor of medicine at Harvard
(Tradução: Henrique Sá)
Perdoe-me, corpo diante de mim, por isto.
Perdoe-me por minhas mãos incompetentes, sem instrução
na forma de tocar: Eu queria entender
o que a febre era, não o que era o amor
Perdoe-me por meu olhar, mas quando eu olho para você,
eu me vejo nu
Perdoe-me, corpo, pelo que parece ser uma análise quando suspiro
antes de cortá-lo com meu bisturi,
porque o cancro tem que ser removido.
Perdoe-me por não lhe dizer, mas eu não sou nenhum poeta
Por favor, perdoe-me
Perdoe minhas luvas, minha saudação insensível, minha inquietação
você não deve perceber que eu conheci a morte de novo
Perdoe-me se eu disser que ela me olhou impaciente
Por favor, perdoe-me o meu desespero
que parece mais recompensa
perdoe minha ambição, perdoe-me por não ter mais para lhe dar
do que esta pílula amarga
perdão
para este pedido de desculpas, tarde demais, para aqueles como eu
cujos crimes podem parecer inócuos
mesmo quando a crueldade parece óbvia
Perdoe-nos por esses pecados. Perdoe-me, por favor,
o meu coração confuso que soa muito como o seu
Perdoe-me pela noite,
quando eu dormi também, ao seu lado, sob a mesma lua
Perdoe-me por meus sonhos, por meus joelhos ásperos,
por desistir cedo demais
Perdoe-me, por favor
por perdê-lo, incapaz de perdoar
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
Três artigos sobre Medicina, a arte de curar (placebos, nocebos, ars curandis), por Isaac Furtado
A relação médico-paciente funciona em paralelo com o fenômeno placebo-nocebo, exercendo influências no psiquismo e nas respostas neurofisiológicas, de maneira positiva ou negativa, favorável ou desfavorável, como um instrumento terapêutico ou iatrogênico. Já o termo nocebose origina do latim nocere, que significa infligir dano. O oposto de inocere (inocente). Então, seria o placebo inocente?
Leia o artigo completo: http://gazetacrateus.com.br/v2010/opiniao/gazeta-saude-34/
Ars Curandi
A jornada foi longa até se chegar a uma medicina baseada em provas, com exames altamente especializados, com estudos genéticos, marcadores tumorais ou cirurgias robóticas. Mas, ainda necessitamos do tratamento básico de saúde, de simples noções de higiene, e todos sabemos que prevenir é melhor do que remediar. Esse remediar, para medicina, custa muito caro.
Agora, vinte e cinco séculos depois, necessitamos nos remeter ao princípio grego do conforto ao paciente diante da doença, não apenas ao tratamento mecanicista do combate à patologia. Esse conforto é conseguido sempre com a propedêutica que segue regras simples de escutar, olhar e tocar o paciente.
Escutar demonstra interesse, onde muitos dados são anotados na anamnese. Diria que escutar representa cinquenta por cento da consulta. Não apenas o auscultar dos pulmões, do coração, mas escutar as queixas, os problemas mais diversos. Quase como uma sessão psicanalítica.
Olhar é o primeiro ato do exame físico, o dito olhar clínico é fundamental para que muitas conexões sejam feitas durante a consulta, o olhar em busca de sinais, de icterícia, de anemia, lesões de pele etc. O olhar direto no olho que demonstra segurança, o compromisso com a cura.
Tocar é o outro ponto importante da consulta. Não apenas na palpação do abdome, das articulações, mas no aperto de mão na hora da saída, o toque para que o paciente não se sinta desamparado.
Leia o artigo completo: http://gazetacrateus.com.br/v2010/opiniao/gazeta-saude-32/
O ato médico
O ato médico evoca o compromisso sagrado da cura, onde o paciente sempre estará em primeiro plano. Temos que lutar pela qualidade deste ato, não é preenchendo os vazios que os problemas serão resolvidos, mas esvaziando tudo que desvirtue deste caminho, todo interesse político ou corporativista.
No Brasil, os médicos seguem leis definidas em 1931. Agora o Projeto de Lei 7.703/06 há mais de 11 anos em tramitação pelo Congresso Nacional, que leva popularmente o nome de Ato Médico, e prevê uma nova regulamentação do exercício da Medicina no país, está causando muita polêmica. No dia 17 de junho de 2013, o projeto de lei foi aprovado pelo Senado Federal com apenas um voto contra, e foi publicada no dia 11/07/13 no Diário Oficial a sanção da presidente Dilma Rousseff. No entanto, dez pontos importantes e polêmicos foram vetados, como a exclusividade dos diagnósticos.
Leia o artigo completo: http://gazetacrateus.com.br/v2010/sem-categoria/gazeta-saude-30/
Isaac Furtado - Cirurgião Plástico
Formado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará, terminou sua pós-graduação no Serviço de Cirurgia Plástica do Prof. Ivo Pitanguy e PPUC-RJ. Desde 1999 é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Participará de mesa redonda no Colóquio com a fala: “Olhar sensível: contribuições das Artes Plásticas” (obra sensível de Descartes Gadelha). Confira a programação!
Medicina: ciência e arte, por Antonio Ledo
O povo brasileiro
Origina-se, em parte,
De Portugal,
Ao atravessar o oceano,
Em suas naus,
Os portugueses trazem também,
As origens da Medicina brasileira tradicional
Picanço, nobre Pernambucano,
Formado no Reino Lusitano e na França,
Medico da corte Joanina,
Vem com a proposta pronta,
Para as escolas de Medicina,
Da Bahia e do Rio de Janeiro
Nessa época,
A tal Medicina tradicional,
(Vinda d’além-mar com as naus)
Era quase pura ARTE,
Já que a eficácia dos medicamentos,
Dos unguentos circulantes,
Das cirurgias aterrorizantes,
Era nula, ou quase nula
Desde então,
Já se vão,
Mais de 200 anos,
E o quadro daquela época: INVERTE-SE
A ciência avança, a passos estrondosos
A técnica medica, com nível de sofisticação,
Similar ao exigido, para ir à lua
Os medicamentos,
São finalmente,
Eficazes,
(Ou quase, na maioria das vezes)
Há que se considerar, no entanto,
Que muitas doenças,
(Como por exemplo, a Tuberculose),
Tiveram sua carga reduzida,
Expressiva e gradativamente,
Muito antes do advento, das drogas ‘anti’
E os PACIENTES,
Como se enquadram,
Nesse cenário pós-moderno?
Estes, infelizmente,
Acompanham como sempre,
Pacientes
Porém, mais que nunca,
Seguem tolerando o intolerável,
Atendidos rapidamente,
Por vezes de pé,
Como penitentes,
Aceitando o inaceitável
Olhos nos olhos,
Nas consultas,
Nem se cogita,
Faz mal a saúde,
Ou a conjuntiva,
‘O bom é remédio,
Que afina o sangue’
A Medicina do presente,
Confunde-se com a ciência,
Salve a Medicina!
O progresso, e a ilusão-de-ótica,
Aprofunda-se com a Ciência!
Pela fibra e por e-mail,
Viva o progresso
Nesse cenário,
As vozes e as almas,
Dos PACIENTES,
Cada vez mais longevos,
Seguem impacientes
Como comunicar-se,
Em um contexto,
Onde a ARTE da Medicina,
Vê-se ofuscada,
Diante de tantas luzes lancinantes,
Pretensos açúcares,
Edulcorantes?
Ou, como querem os otimistas
Nesse novo contexto,
A ARTE apenas adormece,
(Para uns profundamente)
A espera d’algum príncipe,
Que venha tocar-lhe os lábios
Nesse sentido,
É preciso,
E sem nenhuma duvida,
Corrigir o rumo,
É urgente levar a nau,
De volta,
Aos tempos idos,
É imperativo resgatar os sentidos,
De 1808,
Quando a Medicina, ARTE pura,
Resistia sem a ciência,
De 2008
Urge fazer com que a cura,
Venha depois do alívio,
Com que Aquele que trata,
Bata na porta,
Após Aquele que cuida,
Além da obrigação do ofício
Humanidades Médicas,
Faz um primeiro colóquio,
Refaz a agenda,
Combinando períodos,
Traz o paciente,
À centralidade
Revigora o tempo da Medicina: ciência e arte
Efusivos PARABÉNS a todos,
Que participam dessa luta,
E constroem juntos,
O imperioso coletivo do ‘humano contemporâneo’
A. Ledo
23-X-2013
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Drops
- Salman Rushdie, A Feiticeira de Florença
Confira os Drops!
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Reflexão
Que o leitor não imagine, pois, encontrar aqui ressentimentos ou rancor. Somente a percepção de um perigo e a impressão de um mal-estar profissional dirigiram meu pensamento. Fiquei preocupado com o silêncio dos médicos: não quis compartilhar o que creio ser o erro comum de uma incapacidade de se questionar. Eis, pois, do fundo de meu coração, um apelo para que a medicina permaneça a mais bela profissão do mundo.
(Philippe Meyer. Prólogo. In: A irresponsabilidade médica. Editora UNESP. 2000.)
Na seção Drops...
A Verdade Dividida, de Carlos Drummond de Andrade
A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
[...] ---> leia mais
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
Uma visão acerca da linguagem e seu papel na relação médico-paciente, por Henrique Sá
Henrique Sá, Curso de Medicina, Universidade de Fortaleza
Nem todos os pacientes podem ser salvos, mas suas condições podem ser aliviadas pela forma como o médico responde a eles [os pacientes]… Ao aprender a falar para os seus pacientes, o médico fala a si próprio, significando sua prática, devolvendo a ela a paixão dos primeiros momentos.
Broyard, 1992.
Observem um trecho de “O Carteiro e o Poeta” (Il postino, Itália, 1994), baseado no livro Ardiente Paciencia de Antonio Skármeta. O filme apresenta a poesia como protagonista da história de uma amizade, em princípio, improvável, entre o grande poeta chileno Pablo Neruda e o carteiro Mario. Por razões políticas, Neruda (interpretado por Phillip Noiret) se exila em uma ilha no sul da Itália. Mário (Massimo Troisi), filho de um pescador, mas que não quer seguir a profissão do pai, é contratado como carteiro, encarregado de cuidar exclusivamente da correspondência do poeta. Aos poucos, Mário consegue se aproximar de Neruda, e as barreiras entre os dois caem e dão lugar a uma troca de sentimentos e descobertas. Quando se descobre apaixonado pela bela Beatrice Russo, Mario pede ajuda a Neruda para conquistar a amada com poesia. É quando descobre o significado de “metáfora” e aprende a expressar seus sentimentos por Beatrice. Ele aprende que, através da observação das realidades exteriores, pode expressar o que está em seu interior. A primeira coisa que diz a Beatrice é “seu sorriso é como as asas de uma borboleta”. Mário demonstra profunda sensibilidade e, em determinado momento, lança uma questão que faz o próprio Neruda pedir um tempo para pensar: “Todas as coisas no mundo têm outra coisa que é sua metáfora?”.
Expressar-se cria rapport. Depois de ter falado, eu não estou mais sozinho, eu estou participando de uma conversa com outras pessoas visando dar sentido ao que me aflige. A minha experiência não é mais só minha, mas agora é a nossa experiência. A linguagem cria um ponto de vista compartilhado a partir do qual podemos ver as coisas juntos.
“Doutor, estou sentindo uma rima terrível” – é assim que Paulo Leminski, poeta curitibano abre seu conto “Sintomas”, no livro de coletâneas Gozo Fabuloso (2004, DBA). Como já era nítido em sua obra mais conhecida, a poesia, aqui Leminski abusa dos jogos de palavra – um abusar no sentido positivo, de bastante uso de um recurso que ele domina muito bem. Parece, na realidade, aquele sujeito que faz malabarismo como se fosse a coisa mais simples do mundo, e que quando você tenta fazer igual acaba se dando mal. Dá para perceber isso como quando o médico pede para ver a língua do paciente, que acaba respondendo: “O senhor não leve a mal, mas é uma língua apenas portuguesa. Pouca gente no mundo já viu uma língua como essa.“. Ele cria uma situação de humor sem ser histérico, é aquele jeito gostoso de achar graça. O jogo de perguntas e respostas é rápido, afiado e muito, muito bom.
- É, é mais grave do que eu pensava.
As relações entre médicos e pacientes não são inventos de novo, mas (como acontece com as relações em geral) existem dentro de um contexto de compreensão compartilhada sobre que "fundamentos " tais relações se dão. E esses entendimentos compartilhados são revivificados e reafirmados (ou revistos) no diálogo constituído pelos encontros terapêuticos. Compreender a dinâmica da expressão da linguagem do paciente é, finalmente, compreender o sentido de sua própria expressão como terapeuta – e a próprio sentido da profissão. Diz Taylor:
A manutenção destes diferentes fundamentos requer algum grau de entendimento comum por parte dos participantes potenciais (…); o entendimento comum é provocado e mantido por meio da linguagem. (…) Isso não significa que não exista um entendimento comum, tácito, entre as pessoas. Mas não tal entendimento não é necessariamente intersticial. Ele existe dentro de um framework sobre o que é expresso. Sem linguagem, ao final das contas, não poderíamos ter o que descrevemos como entendimento comum (Taylor , 1985 , 272).
Nietzsche chamou isto de Sittlichkeit der Sitte - o caráter personalizado da moralidade. Vivemos dentro de padrões recebidos de nossas experiências com o mundo – mediadas pela linguagem, e que estabelecem parâmetros pelos quais interpretamos – e expressamos – nossos sentimentos. Em relação às nossas doenças, tais parâmetros não são, no entanto , ao contrário do ponto de vista de Nietzsche, necessariamente sufocantes e restritivos. Como pacientes, a percepção – e a expressão – da enfermidade normalmente permanece válida (embora sujeita a revisão) até o momento em que é dialogada com a experiência profissional, e com sua interpretação. Até então, porque passaram pelos testes do tempo e da experiência, nossas percepções do adoecer são fruto de um dialogo interno que configura nossa descrição – via linguagem – da enfermidade. Entretanto, os médicos são distinguidos acima de tudo pela sua capacidade de enxergar além da história do paciente para as complexas redes de conhecimentos médicos – as redes de possibilidades diagnósticas - pelos quais doenças são consideradas reconhecíveis. Hipervalorizar esta capacidade, tal como a formação médica tende a fazer, tem duas consequências perniciosas: a desvalorização da experiência do doente (e do médico) e a transformação do corpo do doente (e, muitas vezes, do próprio doente) em um objeto aos olhos do médico. A “ciência” médica prospera em definir sua relação sujeito/médico-objeto/paciente e cultiva a consciência monológica, que tem como objetivo conhecer os objetos de seu estudo; a Medicina tende a considerar suspeitas todas as coisas subjetivas. Ao contrário, a “prática” médica é experiencial, relacional, e hermenêutica por natureza.
Explorar os limites da experiência da relação médico-paciente é, ao final das contas, redescobrir também significados intrínsecos da linguagem entre estes dois participantes de um processo terapêutico, e resvalam significantes para os dois lados: o paciente, que encontra no médico o ser dialógico que interpreta sua percepção da enfermidade, em busca do alívio tão requerido para sua dor; e o médico, que como diz Broyard, reencontra-se com o significado de sua própria profissão.
Prof. Henrique Sá - Vice-Reitor de Graduação da UNIFOR
Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (1992), Residência Médica em Pediatria (Hospital Walter Cantídio, UFC, 1995) e mestrado em Health Professions Education (MHPE) - University Of Illinois At Chicago (2001). Atualmente é Professor Assistente da Universidade de Fortaleza onde atua como Vice-Reitor de Ensino de Graduação. Foi Coordenador de Planejamento e Avaliação do Curso de Medicina e membro da Assessoria Pedagógica do Centro de Ciências da Saúde entre 2004-2008. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Pediatria e Desenvolvimento Infantil, e na área de Educação para as Profissões da Saúde/Educação Médica, atuando principalmente nos seguintes temas: aprendizagem baseada em problemas, problem-based learning, educaçâo medica, avaliação de estudantes e programas educacionais, desenho de currículos e, no campo da pediatria, Clínica Pediátrica e Desenvolvimento Infantil.
1º Colóquio sobre HUMANIDADES MÉDICAS/FAMED-UFC/UNIFOR
Local: Auditório da SOCEP (Sociedade Cearense de Pediatria. Rua Maria Tomásia, 701. Aldeota. Fone: 3261-5849)
O I Colóquio sobre Humanidades Médicas é um evento organizado pelo Grupo HumanAmigos de Humanidades Médicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará em parceria com a Universidade de Fortaleza (UNIFOR).
Participam também da iniciativa: o Núcleo de Ensino, Assistência e Pesquisa da Infância do Departamento de Saúde Materno-Infantil-FAMED/UFC; o Projeto de Vivência da Relação Médico-Paciente (PROVIMP); o Núcleo de Desenvolvimento da Educação Médica (NUDEM); Instituto da Primeira Infância (IPREDE) e o Núcleo de Tecnologias e Educação a Distância em Saúde (NUTEDS).
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Provimp: curar, aliviar e consolar sempre
Grupo atual do Provimp (2013) |
Ianna e parte dos seus colegas de turma parecem ter vivido um divisor de águas, em suas vidas e carreiras, desde que resolveram fazer o estágio na Santa Casa. Na Clínica de Infectados do hospital, eles se depararam com uma realidade talvez crua demais para quem, felizmente, ainda tinha a capacidade de se emocionar com o sofrimento dos pacientes que se encontravam em tratamento.
“As necessidades humanas dos pacientes carentes e que apresentavam quadros clínicos graves não eram correspondidas pelos médicos”, relembra Ianna, que a partir de então desenvolveu um interesse especial pelo que para muitos é um desastre, a relação médico-paciente. Das primeiras observações até a concretização do projeto não demorou muito. Após um período inicial de estudos, entre janeiro e março de 98, já a partir de abril, os estudantes deram início ao que veio a ser o Provimp.
No decorrer do ano de 1999, realizaram quatro cursos de vivência na relação médico paciente, para acadêmicos do primeiro e segundo semestres. Apelidados de Projeto dos Curativos ou da Santa Casa, os estudantes sofreram e ainda enfrentam a resistência de alguns profissionais, médicos e professores, que ignoram a base social e humanitária que reveste o projeto. O apelido deve-se ao fato de que para manter uma relação mais íntima com o paciente, os estudantes faziam curativos nos mesmos.
“Aquele foi o meio que encontramos para nos aproximarmos dos pacientes, para investigar a relação médico-paciente”, esclarece Ianna Lacerda, que a partir dos ensinamentos que vem tendo com os trabalhos realizados pelo grupo, afirma: “Se o médico escuta, o paciente já melhora, pois muitas doenças têm mais um fundo psicossomático do que orgânico”. Ao falar sobre as falhas médicas na relação com o paciente, ela destaca que a não disponibilidade de tempo para ouvir o paciente é uma das mais presentes.
Os participantes do trabalho procuram ser discretos em suas críticas, pelo fato de correrem o risco de serem mal interpretados. Embora considere que o sistema é o maior responsável pela postura assumida pelos médicos, já que é assim que os ensina a lidar com seus pacientes, Ianna não desconsidera que muitos profissionais “não descem do seu pedestal e não têm empatia pelo paciente”, fazendo da medicina uma forma de ganhar status social.
Fonte: Diário do Nordeste-ESPECIAL PARA O CADERNO VIVA ,Milene Madeira (Fortaleza , Ceará Quinta-Feira, 16 de setembro de 1999)
Você pode me ouvir, Doutor?
Da mesma forma que o amor tem a força de rejuvenescer e transformar o cotidiano num mágico cenário, a doença, ou a suspeita dela, tem o efeito de tirar o chão, transformando as alegrias em medo e insegurança. Nesse momento, é preciso acreditar na força da vida que parece esvair-se de repente. É quando o médico – com seu mítico poder de cura – passa a ter fundamental papel em nossas vidas. O Doutor de branco passa a ocupar um lugar mitológico, mágico, nunca antes perdido, mesmo ante um mundo altamente tecnológico que mantém todos distantes. Cadeiras afastadas, num mundo cercado pela pressa e ausência de relações pessoais quase não há mais tempo para o convívio humano, menos ainda para o tão importante e mítico convívio entre o médico e o paciente. O acolhimento, o humanismo, o cuidado com o outro que sofre parecem coisas ultrapassadas.
Você pode me ouvir, Doutor? é uma obra sensível, amorosa, que pretende lembrar ao médico, mediante cartas de outros profissionais, que a capacidade de curar começa com a capacidade de ouvir. Rubem Alves diz que a gente ama quem ouve bonito e que todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir.
Esta obra é um convite delicado, amoroso para profissionais da saúde, escrito por outros profissionais que viveram a experiência de que a cura começa na capacidade de ouvir e na disponibilidade interior de ser o intérprete das necessidades de quem está numa cadeira à sua frente. Esta obra propõe que se aproximem as cadeiras.
Os organizadores
João Macedo Coelho Filho e Álvaro Jorge Madeiro Leite |
“A contribuição das Artes Cinemáticas”, por Jesus Irajacy
A contribuição das Artes Cinemáticas é uma das falas que irão compôr a primeira mesa redonda do 1º Colóquio sobre Humanidades Médicas FAMED-UFC/UNIFOR, e tratará do filme "Perfume de Mulher".
Jesus Irajacy Fernandes da Costa - Radiologia - UFC
Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Ceará(1988), mestrado em Medicina (Clínica Médica) pela Universidade Federal do Ceará(2001) e residencia-medicapela Universidade Federal do Ceará(1991). Atualmente é Professor Assistente da Universidade Federal do Ceará.
domingo, 20 de outubro de 2013
Grupo de Humanidades - Medicina da Universidade Estadual do Ceará
Formação do grupo em 2008 |
Nos últimos anos, vem se desenvolvendo uma grande área de reflexão e pensamento, denominada "humanidades médicas", que incorpora a realidade social e a experiência individual à interface entre médico e paciente. O grupo Humanidades, Saberes e Práticas em Saúde nasce em 2004, como núcleo de desenvolvimento de pesquisas, composto por estudantes de Medicina, com o objetivo de explorar como a prática médica lida com as experiências de pacientes e de médicos e o processo saúde-doença. As linhas de ação envolvem pesquisa com médicos oncologistas e sua visão da relação médico-paciente na consulta oncológica e ensino no terceiro e quarto semestres do curso de Medicina, utilizando casos clínicos, modelo teórico e role play. Nessa perspectiva, busca-se aproximar a temática da relação médico-paciente do cotidiano dos estudantes de Medicina, contribuindo para desenvolver uma atitude humanizada frente ao ser humano portador de enfermidade.
Leia mais
Educação e Humanidades em saúde: a experiência do grupo de Humanidades do curso
de Medicina da Universidade Estadual do Ceará (Uece)
domingo, 13 de outubro de 2013
1º Colóquio sobre HUMANIDADES MÉDICAS/FAMED-UFC/UNIFOR
Local: Auditório da SOCEP (Sociedade Cearense de Pediatria. Rua Maria Tomásia, 701. Aldeota. Fone: 3261-5849)
O I Colóquio sobre Humanidades Médicas é um evento organizado pelo Grupo HumanAmigos de Humanidades Médicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará em parceria com a Universidade de Fortaleza (UNIFOR).
Participam também da iniciativa: o Núcleo de Ensino, Assistência e Pesquisa da Infância do Departamento de Saúde Materno-Infantil-FAMED/UFC; o Projeto de Vivência da Relação Médico-Paciente (PROVIMP); o Núcleo de Desenvolvimento da Educação Médica (NUDEM); Instituto da Primeira Infância (IPREDE) e o Núcleo de Tecnologias e Educação a Distância em Saúde (NUTEDS).
Localize-se!
HUMANIDADES MÉDICAS: para quê?!
[...]
A medicina é uma profissão ambivalente. Triunfa e fracassa. Encanta e desencanta. Tem sido uma profissão angustiada pela premência dos nossos tempos; tempos de subjetividades sem referenciais, tempos sociais sem decência e civilidade, tempos de decepção. Tempos de questionamentos da eficácia dos processos pedagógicos, tempos de substituição da relação médico-paciente para uma relação de laços e vínculos frágeis instituição-paciente.
Como fazer frente aos desgastes por qual passa a medicina e seus médicos, compreendendo os nexos existentes entre os aspectos essenciais da sociedade contemporânea e a formação integral dos médicos?
A medicina, talvez seja a profissão que requer mais insistentemente uma dimensão atemporal, a-histórica do homem: quem sente ou vê o chão se esvair por franca ameaça de uma doença sempre desejará encontrar a proximidade do olhar, da escuta, dos bons gestos de um médico. Os desejáveis gestos!!! Um médico de sempre. “Estar nas mãos dos médicos”, muitas vezes representa a esperança do sopro de vida.
Mas hoje muito se fala da impossibilidade temporal e histórica desses gestos! Da existência desse médico.
A proposta desse Colóquio é ajudar a encontrar os cacos que conformem, com o desejo e trabalho de muitos, o mosaico para uma medicina atenta à sua complexa vocação humanista[...]
Leia aqui o texto completo da apresentação.